João Ricardo Pedro com ‘Engenho e Arte’ nas 5as de Leitura de 2017
Ano novo, livros novos e novas conversas. A noite fria de 19 de janeiro aqueceu, na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, com a primeira sessão das 5as de Leitura de 2017 a receber o escritor João Ricardo Pedro, que se tornou um fenómeno de sucesso literário quando, em 2011 e com o seu primeiro romance, «O Teu Rosto Será o Último», venceu o cobiçado Prémio Leya. Em 2016, com «Um Postal de Detroit», prova que não é autor de um êxito só. Na Figueira da Foz, num encontro com fãs e outros apaixonados por livros, João Ricardo Pedro falou do seu percurso, do processo criativo e das histórias que o têm. O Vereador da Cultura, António Tavares, e a editora Maria do Rosário Pedreira, viraram as páginas da conversa.
Para a editora da LeYa, Maria do Rosário Pedreira, não há dúvidas: João Ricardo Pedro «é genial». A forma como um engenheiro desempregado concorre e ganha o Prémio LeYa, quando escritores consagrados também estavam na corrida, é disso uma prova, mas não a única. A chamada à capa do El Pais de um texto sobre o escritor português e as recomendações nas montras das livrarias francesas, bem como a quase instantânea tradução em dez línguas, dão bem conta da qualidade da escrita do engenheiro electrotécnico que aproveitou o tempo livre criado por uma situação de desemprego involuntário para se dedicar à que se revelaria a sua verdadeira paixão: escrever. A ligação aos livros era intensa e antiga, o que lhe facilitou a tarefa, mas não muito. «Fiz as contas e, nestes dois livros e nestes anos, escrevi cerca de 400 páginas. Isso dá qualquer coisa como cinco palavras por dia… os meus filhos bem me dizem que eu não faço nada», brincou. «A questão é que têm de ser as cinco palavras certas. É esse o meu compromisso comigo, com a literatura, com os meus leitores: saber que naquele momento não sou capaz de melhor», explicou. Por isso, João Ricardo Pedro entrega-se de corpo e alma ao ato de escrever. «Chego a chamar à minha filha o nome de uma personagem. E depois tenho de pedir-lhe desculpa e explicar-lhe que a chamei pelo nome de uma menina que acabei de inventar», confidenciou.
Já a escrever o terceiro livro, João Ricardo Pedro confessa que acaba por se desapaixonar dos já publicados. «Este é que vai ser mesmo bom, penso sempre. Se chegar a escrever um oitavo livro julgo que ainda vou sentir isso, que posso fazer melhor», disse. Para já, os leitores podem ler ou reler «O Teu Rosto Será o Último», passado no Portugal de 1974, ou «Um Postal de Detroit», que parte do acidente ferroviário que, em 1985, colocou Alcafache no mapa e consternou o país inteiro, para a demanda de um homem psicologicamente instável pela sua irmã, cuja mochila, com um diário em desenhos dentro, é encontrada entre os destroços das carruagens calcinadas. «Há corpos que nunca foram encontrados, eu era miúdo e lembro-me bem deste episódio, marcou-me», confessou. O impacto do acidente, onde morreu uma jovem vizinha do escritor, nas notícias na televisão e nos jornais da época, revelar-se-ia anos mais tarde no escritor. Com novas histórias «à espera para serem contadas», João Ricardo Pedro despediu-se dos presentes na sessão de janeiro das 5as de Leitura com a habitual sessão de autógrafos e a continuação da conversa, em tom ainda mais intimista, à volta do chá de limonete que encerra estes serões literários.